“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.” Essa frase foi proferida no século XVIII por Lavoisier, mas poderia muito bem ser o slogan para o conceito de economia circular da atualidade.
O cientista, hoje considerado o pai da Química Moderna, nos explica que não há uma decomposição das substâncias, mas sim uma nova combinação dos elementos. A partir disso, é possível entender por que o lixo de alguns processos industriais é o luxo de outros: os resíduos tornam-se insumos para dar início a um novo ciclo.
Nesse cenário, o aço tem um papel primordial, já que é infinitamente reciclável por excelência. Mas como ele se insere na economia circular e como as empresas se beneficiam com essa transformação? Quem nos esclarece tais conceitos é Leonardo Ribeiro, Especialista em Meio Ambiente, e Luciana Magalhães, Gerente de Meio Ambiente e Coprodutos, ambos da ArcelorMittal. Confira!
O que é a economia circular?
Definir o que é a economia circular nem sempre é tarefa simples. Na verdade, há uma grande discussão sobre o assunto entre os acadêmicos, que a chamam de conceito “guarda-chuva”, pelo fato de englobar diversas outras concepções de escolas econômicas, sociais e ambientais.
Mais fácil do que tentar explicar o significado do termo em linhas filosóficas é falar sobre as partes que o compõe. Nesse contexto e de forma mais prática, a economia circular se opõe à economia linear, cuja lógica é: extrair o recurso, processar, utilizar e destacar.
A economia circular tem por princípio eliminar esse descarte, ou seja, essa geração de resíduos. Propõe-se a tentar manter o uso ou a funcionalidade do material no seu maior valor possível, por meio de processos que chamamos de loopings. Leonardo nos dá um exemplo de como isso acontece.
“Vamos pensar numa caneca de aço. Se eu reuso a caneca várias vezes, mantenho a utilidade a que ela foi proposta. Já se eu amasso ou estrago o item, posso repará-lo. Agora, se não consigo reutilizar nem reparar, posso partir para a reciclagem desse material.”
O Especialista continua: “Note que a reciclagem implica em gasto de energia, já que será necessário transformar esse produto em algo novo. Então, o looping desse processo teria menos valor, mas, ainda assim, é extremamente relevante e essencial para a economia circular”.
Isso demonstra a importância da união de várias esferas — industriais, sociais e culturais — para essa nova mentalidade. Em suma, a economia circular tem por objetivo otimizar a utilização de recursos, porém, vai além dos modelos tradicionais de sustentabilidade, já que também exige a preservação do capital financeiro, produtivo, humano, social e natural.
Isso se consegue com a criação de produtos projetados para usarem o mínimo de recursos e que possam ser reutilizados e reciclados indefinidamente, para serem transformados em novos produtos.
Como o aço entra na economia circular?
O aço oferece muitas das qualidades exigidas pela economia circular, porque oferece vantagens significativas diante do enfoque holístico e sustentável da otimização dos recursos. Quando pensamos no contexto histórico, a reciclagem do aço é feita praticamente desde a sua descoberta, pois a matéria-prima era escassa, e os ferreiros logo perceberam esta característica do metal: as suas características não diminuem quando reutilizado, reparado ou reciclado.
“O aço tem sido fundamental para o progresso humano. E o aço continuará sendo inerentemente útil, pois é forte e, ao mesmo tempo, flexível, durável (raramente algum produto perde sua utilidade porque o aço deixou de cumprir a sua função), tem potencial para ser reutilizável (caso isso seja pensado desde o design do produto), e é o material mais facilmente reciclável — perfeito para uma economia circular”, comenta Luciana.
“A sociedade moderna, tal como a conhecemos, não existiria sem o aço”, nos conta Leonardo. Isso não quer dizer que ele é livre de impactos ambientais, afinal, é um dos materiais mais usados no mundo, justamente devido a todos esses requisitos e atributos que possui, como qualidade, durabilidade, flexibilidade, força e capacidade de se conectar a outros materiais, como o concreto.
“São exatamente essas características que fazem do aço um material perfeito para a economia circular. Se houver uma gestão adequada, o aço é um produto permanente, que permite o que chamamos de reciclagem infinita — pode ser utilizado por anos, sem que perca o seu valor”, complementa o especialista.
O aço e a economia circular no Brasil e no mundo
Hoje, no Brasil, cerca de 30% de todo o aço produzido é proveniente de reciclagem. Qualquer que seja a origem da sucata, o ciclo de reciclagem do aço produz aços novos que podem ser utilizados em qualquer mercado: automotivo, de construção civil, de produção de embalagens etc.
A geração própria de energia, pelo reaproveitamento dos gases gerados no processo de produção em centrais termelétricas, ou através de usinas hidrelétricas próprias, é outra característica que insere a siderurgia na economia circular.
Segundo dados do Instituto Aço Brasil, em 2018, 55% do consumo de energia elétrica das usinas foi suprido por meio da autogeração, sendo 47% em termelétrica e 8% em hidrelétrica. E as empresas do setor investiram R$ 1,2 bilhão em projetos de proteção ambiental, em iniciativas que envolvem, entre outros, programas de conservação de energia, recirculação de água e reciclagem de aço.
Na Europa, cerca de 75% de todo aço para embalagens é recolhido e reciclado para produzir aço novo. Com uma vantagem: o aço é reciclável indefinidamente, sem perder nenhuma de suas propriedades intrínsecas.
A redução do uso de recursos por meio da reciclagem
Entre 80% e 90% de todo o aço produzido até hoje segue sendo utilizado. Reciclar uma tonelada de sucata conserva mais que o dobro da quantidade de recursos equivalente:
- 1,5 tonelada de minério de ferro;
- 0,65 tonelada de carvão;
- 0,3 tonelada de calcário.
Uma tonelada de aço reciclado reduz o uso de energia em cerca de 70% em comparação com sua produção a partir de matérias-primas. A reciclagem também reduz o impacto da siderurgia no meio ambiente. Produzir uma tonelada de aço a partir de fontes recicladas reduz as emissões de CO2 equivalente em 1,5 tonelada.
Quais são as vantagens para as empresas?
Ainda é comum pensar que o conceito de economia circular funciona muito bem no âmbito teórico e filosófico, mas que não expõe as vantagens na prática para as empresas que a adotam.
Pensando, por exemplo, no Fórum Econômico Mundial de 2020, que ocorreu em Davos, a pauta da vez foi o ESG (Environmental, Social, and Corporate Governance). Essa sigla faz referência aos três fatores centrais para medir o impacto social e a sustentabilidade de um investimento em uma empresa.
Leonardo nos diz que, em um primeiro momento, isso pode parecer algo muito distante da nossa realidade ou que as reuniões fiquem apenas no discurso “vamos salvar o meio ambiente”, mas o Especialista explica que isso tem um significado prático muito importante.
Primeiro, tais critérios ajudam a determinar da melhor forma o desempenho financeiro futuro das empresas, avaliando seus riscos e seu retorno.
Segundo, há uma demanda crescente da sociedade em cobrar das empresas que respondam às tendências ambientais e sociais. Isso faz com que elas comecem a transformar o contexto de operação e, como consequência, temos desdobramentos também por meio de bancos. Eles passam a financiar os projetos para aumentar a produção, melhorar os controles ambientais e desenvolver produtos mais duráveis, que fechem o ciclo de reciclagem de elementos.
Luciana e Leonardo consideram a longevidade dos produtos e a possibilidade de reciclá-los um diferencial competitivo para quem pensa em economia circular. Isso porque reduzem o risco da escassez de recursos ao longo da sua cadeia produtiva, já que se trabalha com materiais cíclicos.
Ao mesmo tempo, é possível entregar mais valor para os clientes. É fácil de compreender esse aspecto quando pensamos no aço novamente. “No fundo, o cliente não quer tonelada de aço, ele quer a utilidade que o aço tem. Então, se eu reduzir o peso e dar soluções para que o meu cliente use menos material, não significa que terei menos lucro, porque estamos aumentando o valor agregado do produto”, explica Leonardo.
Ou seja, a economia circular trabalha várias esferas estratégicas. Desde dentro do processo, em que se consegue atingir a ecoeficiência, gerando menos resíduos, até a maneira como a empresa se posiciona enquanto um negócio mais circular. Assim, ela se mostra menos dependente de recursos naturais e entrega mais valor a seus clientes.
De que maneira é possível promover a economia circular?
Diante de tudo que já falamos aqui, você deve estar se perguntando como promover a economia circular dentro do nosso contexto social de hoje.
Como mencionamos, a sociedade já estava cobrando muito das empresas e das indústrias que usassem menos recursos e gerassem menos resíduos (diminuindo as emissões atmosféricas). Porém é importante destacar que o setor industrial e siderúrgico já vêm, ao longo de vários anos, atendendo a essas demandas, pois isso gera custo para quem opera no setor.
Visto que já estamos chegando nos limites teóricos de consumo de energia para a produção do aço, existe um esforço para olhar não somente para dentro do processo, mas também para o modelo de consumo da sociedade —, e a ArcelorMittal tem trabalhado nisso.
Então, Leonardo fala que a primeira coisa a se pensar para promover a economia circular é na eficiência dos processos. Depois, é preciso investir na inovação dos produtos e modelos de negócio, trazendo itens mais duráveis à sociedade.
O especialista nos traz um exemplo que une esses dois pontos, falando como a tecnologia ajuda a economia circular: “A manufatura aditiva e a impressão 3D vêm para nos ajudar a resolver essas questões, pois, em vez de gerar sucata, reduzem consideravelmente o desperdício de matéria-prima na hora de produzir uma peça automotiva, por exemplo”.
Veja algumas iniciativas da ArcelorMittal que podem servir de inspiração para você.
A ArcelorMittal promovendo a economia circular
Estabelecer uma economia circular para a indústria do aço não significa apenas reciclar. Também exige dos produtores, dos usuários e dos consumidores levar em conta todas as etapas do ciclo de vida do aço.
Aqui na ArcelorMittal, contribuímos ativamente para a criação de uma economia circular, fazendo da ecologia industrial parte integrante da nossa política. Uma vez que o conceito também se reflete na criação de modelos sociais e econômicos que impulsionam a reciclagem do aço de embalagens, normalmente a coleta e a seleção da sucata são feitas no nível local ou regional.
Além da ação em benefício do entorno e do uso eficiente de recursos, essa prática envolve os atores locais no tratamento e no transporte dos resíduos. Isso, por sua vez, cria valor nas comunidades locais ao gerar empregos e aumentar a atividade econômica.
Ainda, estamos comprometidos com a reciclagem em âmbito local para evitar emissões, reduzir o uso de matérias-primas e incentivar cada vez mais a implantação de uma economia circular. O investimento em pesquisa e o desenvolvimento de novos usos para os resíduos gerados nos processos produtivos do aço buscam a excelência e a sustentabilidade na produção do metal.
Somos referência no setor siderúrgico pela gestão de resíduos e coprodutos. Nossa produção anual, da ordem de 10 milhões de toneladas de aço, gera 3,7 milhões de toneladas de resíduos e coprodutos. O reaproveitamento desses resíduos é superior a 95%, bem acima da média do setor, de 80%.
Mudanças do Clima
Buscamos constantemente reduzir as emissões de CO2 analisando e reestruturando processos industriais, que podem ou não gerar créditos de carbono.
Declaração Ambiental de Produto (DAP) e Rótulo Ecológico
Uma DAP é um documento produzido e auditado de forma independente, que resume informações sobre o ciclo de vida ambiental e os impactos de produtos. No segmento da construção civil, é considerada como declaração voluntária, efetuada pelos fornecedores contratados por empreiteiras e construtoras, sobre todo o ciclo de vida dos materiais empregados em uma determinada obra.
A ArcelorMittal é a primeira produtora de aço do Brasil a obter a Declaração Ambiental Internacional de Produtos (DAP) para o vergalhão. Essa declaração é emitida pelo órgão certificador alemão IBU (Institut Bauen und Umwelt).
No Brasil, a ArcelorMittal foi também a primeira produtora de aço a conquistar a certificação do Rótulo Ecológico ABNT, tipo II, e uma das primeiras a obter o selo da Pegada de Carbono de Produtos, desenvolvido pela ABNT em parceria com a Carbon Trust, organização sem fins lucrativos sediada no Reino Unido.
Como você pôde ver ao longo do nosso artigo, a economia circular é mais do que um modelo econômico a ser seguido. É a forma que temos de assegurar a eficiência dos recursos naturais, ao mesmo tempo que promove a continuidade dos processos e o desenvolvimento da nossa sociedade.
Nosso artigo foi esclarecedor? Gostaria de tirar mais dúvidas sobre o assunto ou saber como a ArcelorMittal pode ajudar você a fazer parte dessas mudanças? Entre em contato conosco! Teremos prazer em atender.
Um comentário em “O aço e a economia circular”