Reciclagem de materiais: saiba como reaproveitar o aço na construção civil

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Foi na década de 1960 que os questionamentos acerca da limitação dos recursos naturais e suas formas de extração tornaram-se um alerta ao redor do mundo. Também foi nessa época que os cientistas definiram o que é sustentabilidade, como forma de equilibrar o desenvolvimento social e a preservação do meio ambiente para as futuras gerações.

Em meio a esses debates, outro conceito foi criado: o da economia circular. Esse modelo de produção e consumo tem como base a reutilização, o reparo e a reciclagem de metais e de outros materiais para ampliar a vida útil dos produtos.

E o setor da construção civil tem um peso enorme nesse contexto. Mas como é possível reduzir o desperdício de materiais na construção civil? Como é feita a reciclagem de metais nesse segmento? Sobre isso que falaremos por aqui! Continue conosco e faça uma boa leitura!

A sustentabilidade e a economia circular

De acordo com os dados da Global Footprint Network, entidade que monitora e menciona o uso e o gerenciamento dos recursos naturais no mundo, nós já estamos consumindo mais do que o planeta tem capacidade de oferecer. Sendo bastante precisas, as análises apontam que precisaríamos de 1,75 planetas Terra para suprir as demandas da sociedade moderna.

A extração e o uso dos recursos naturais cresceu vertiginosamente nos últimos 40 anos: em 1970, 26,7 bilhões de toneladas de materiais foram explorados; em 2017, foram 92,1 bilhões de toneladas — quase o triplo da quantidade.

Esses números evidenciam como a economia linear funciona. Nesse modelo, o pensamento central é “produzir-utilizar-jogar fora”, o que exige uma enorme quantidade de materiais a baixo custo, um fácil acesso a esses recursos e muita energia para explorá-los e fabricar os produtos.

A obsolescência programada faz parte desse processo, e as limitações, as desvantagens e os riscos associados à economia linear já são perceptíveis — tanto para o planeta e a sociedade quanto para as empresas e a perpetuação dos negócios.

O conceito de sustentabilidade fala sobre a capacidade que um sistema tem de se conservar, de fazer uso dos insumos e dos recursos naturais de tal forma que permita o desenvolvimento da sociedade atual, mas não prejudique as gerações futuras, que também precisarão desses mesmos recursos. É aí que surge a economia circular.

O que é a economia circular?

Tida como o modelo econômico do futuro por diversos especialistas, essa é uma alternativa ao sistema exploratório que vivemos hoje, em que a produção de lixo, os resíduos e a poluição afetam a continuidade da própria cadeia produtiva e, claro, o bem-estar da sociedade.

Em contraste com a economia linear, que segue o curso extração, produção, consumo e eliminação, a economia circular se baseia no princípio dos 3Rs — Reduzir, Reciclar e Reutilizar. Aqui, a meta é estender pelo máximo de tempo possível o valor dos materiais, dos recursos e dos produtos, minimizando consideravelmente o desperdício e a geração de resíduos.

Então, ocorre a reparação e a reciclagem de metais e de inúmeros outros materiais para que sejam mantidos e reaproveitados, em vez de descartados.

Os materiais que podem ser reaproveitados

O setor da construção civil tem uma importância gigantesca no Brasil, afinal, essa área é uma das que mais geram riquezas para o país, sem contar as oportunidades e os postos de trabalho que cria. Porém, como dissemos no início no artigo, o segmento também é um dos principais geradores de resíduos, especialmente pelas altas taxas de perdas da atividade.

Além disso, como mais da metade da população mundial vive em centros urbanos, o setor da construção civil também é o maior responsável pela extração dos recursos naturais do planeta — consome cerca de 75% da matéria-prima, para sermos mais exatos. A grande quantidade de pedras, aço, areia e tantos outros insumos finitos retirados para atender às demandas do mercado deixa bem clara a necessidade de mudanças.

A Associação Brasileira para Reciclagem de Resíduos da Construção Civil e Demolição (Abrecon) afirma que 50% do material desperdiçado no setor são resíduos, que teriam outro destino caso tivessem o tratamento adequado para permanecerem no ciclo produtivo.

Ainda segundo a Abrecon, a reciclagem de materiais de construção acontece, pelo menos, desde o início dos anos 2000, tendo se aprimorado nos últimos tempos. Tudo ocorre de modo muito simples: as sobras são encaminhadas para as empresas recicladoras, que separam e geram o que se chama de agregado reciclado (areia, pedrisco, brita e rachão).

Mas há um outro material amplamente utilizado na construção civil, que é símbolo de resistência e de durabilidade: o aço. Além de ser versátil e garantir o máximo de segurança e de conforto para as pessoas que ocuparão a edificação por causa da sua alta compatibilidade com o concreto, o aço é reciclável por excelência. 

Assim como o ferro, o alumínio, o chumbo, o cobre, o níquel e o zinco, o aço pode ser reciclado infinitamente, sem que perca as propriedades do material original. Interessante, não é mesmo?

A facilidade do processo de reparo e a possibilidade de usar metais ferrosos e não ferrosos em grandes estruturas novamente (como cantoneiras, peças de carros, máquinas e estruturas de sustentação) são grandes vantagens do reaproveitamento desses materiais.

Além da reciclagem dos metais, o reaproveitamento dos resíduos sólidos gerados nas obras também pode ser feito com a madeira, o concreto, o gesso, o EPS (poliestireno expandido) e o vidro.

Mesmo que a reciclagem de metais e de outros materiais de construção tenha se consolidado nos últimos anos, ainda há muito o que fazer no setor. O desafio é grande, mas não impossível de transpor.

A melhor maneira de fazer o reúso dos materiais na construção civil

Como dissemos há pouco, o setor da construção civil é um dos maiores responsáveis pela exploração dos recursos e um dos grandes geradores de resíduos no mundo. Uma vez que a capacidade do planeta está se esgotando, as mudanças no sistema já não são mais uma opção, mas sim uma necessidade.

A urgência em mudarmos do modelo linear para a economia circular, mais sustentável, está diretamente relacionada com a própria continuidade dos negócios e, claro, do progresso social.

Contudo, para que isso aconteça, é essencial que ocorra uma revolução na cultura do sistema, no modelo predominante de pensamentos e de comportamentos.

Nesse contexto, é preciso haver uma reformulação nas soluções desenvolvidas pelas construtoras e incorporadoras — algo que vá além do design e atinja a sustentabilidade em todos os processos produtivos.

Isso quer dizer que a economia circular exige que pensemos de maneira mais ampla, considerando a durabilidade dos empreendimentos, mas também avaliando os impactos que cada componente utilizado gera para o planeta.

Em meio a isso, muitos dos materiais utilizados nas obras podem ser transformados para terem uma nova finalidade de valor. Perfis metálicos, arames, pregos e vergalhões geralmente são fabricados a partir de sucata.

Como o aço reciclado não perde as suas qualidades, não há nenhum prejuízo para a edificação quando o assunto é resistência e segurança.

Aliás, o aço tem um papel central na economia circular e na construção civil, devido às inúmeras vantagens que apresenta, ainda mais quando reciclado e reaproveitado em obras de engenharia e de arquitetura.

Outro aspecto que vem ganhando protagonismo é a busca constante para o desenvolvimento de aços com maior competência técnica, a fim de proporcionar uma aplicação mais racional, orientada para o desempenho e a sustentabilidade — seja por meio de pesquisa visando materiais mais resistentes, portfólio com maior nível de industrialização (na busca do zero desperdício) ou de soluções de engenharia mais inteligentes focadas no desempenho ambiental, social e econômico.

Com essas iniciativas, o objetivo é gerar menos desperdício, aumentar a produtividade do setor e elevar a performance das soluções no projeto e execução.

O processo de reciclagem do aço

A reciclagem do aço é feita a partir de métodos sustentáveis. Num primeiro momento, o aço passa por uma triagem manual para separar as impurezas.

Depois, o aço segue para uma beneficiadora, que faz a seleção, a classificação e a prensa do material. Uma vez prensado, o aço vai para a usina siderúrgica, onde será derretido e reaproveitado para a produção de uma peça nova.

O interessante é que o novo aço pode ser utilizado tanto na construção civil como em qualquer outro setor, desde a fabricação de embalagens e de peças automotivas até itens inoxidáveis de cozinha.

Da mesma forma, a via contrária também faz parte do ciclo de reparo do aço. As sucatas utilizadas na reciclagem têm origens diversas, vindo da própria indústria de fabricação do aço ou de outros segmentos.

Geralmente, o material aproveitado no processo produtivo tem as seguintes fontes:

  • sucata interna — é o material gerado dentro da própria usina siderúrgica;
  • sucata industrial — é utilizado o material gerado em metalúrgicas, fundições e plantas industriais (principalmente do setor automobilístico);
  • sucata de obsolescência — recolhida depois do consumo, esse material vem da coleta de qualquer item metálico que tenha sido descartado ou entrado em desuso e que esteja em condições de ser reciclado. Essa sucata é adquirida com a cata em veículos automotivos, que são a principal fonte de sucata por obsolescência, máquinas, eletrodomésticos, embalagens (latas de aço) etc.

Nesse processo, o maior desafio do setor é justamente aumentar o valor da sucata, já que as impurezas nos materiais (resíduos de plástico, tinta, alumínio etc.) dificultam o recebimento e a reciclagem do aço.

Por isso, a gestão dos resíduos das construções é crucial para superarmos essas adversidades. A separação das impurezas deve ser realizada ainda no canteiro de obras para só então o material ser encaminhado às usinas de reciclagem.

Uma boa gestão é o caminho para execuções mais organizadas, que sejam mais sustentáveis e levem a uma economia circular de grande escala.

A importância da economia circular

Chegando até aqui, você já deve ter compreendido a importância e a urgência da economia circular e como a reciclagem de metais está no centro dessa engrenagem, não é mesmo? Os processos industriais que se baseiam no princípio dos 3Rs trazem inúmeros benefícios para a sociedade, em diferentes esferas da vida da população.

A reciclagem do aço, por exemplo, gera uma economia de energia elétrica que alcança os 80%. Ao reciclar uma tonelada de aço, 1.140 kg de minério de ferro e 155 kg de carvão deixam de ser extraídos da natureza.

Isso tudo proporciona um menor impacto ao meio ambiente, reduzindo a pressão sobre ele, diminuindo a emissão de gases do efeito estufa e gerando maior segurança ao setor industrial em relação ao abastecimento das matérias-primas. Mas os ganhos não são só em termos de sustentabilidade.

Esse modelo representa um fortalecimento econômico significativo no longo prazo, à medida que preservamos o meio ambiente e repensamos o uso dos recursos naturais. É o que apontam as pesquisas e os levantamentos feitos pela Accenture, que prevê que a economia circular vai gerar um ganho de 4,5 trilhões de dólares no mundo até 2030.

Para as empresas do setor da construção civil, a redução dos custos de produção é enorme, já que o agregado reciclado, por exemplo, custa entre 30% a 50% menos do que o produto original. Porém, esses ganhos são promissores para inúmeros outros segmentos, já que a reinserção de materiais para consumo promove o aumento da competitividade e da inovação.

Novas medidas para reduzir a geração de resíduos devem ser estabelecidas, assim como a criação de produtos com design ecológico. Essa movimentação faz com que haja um crescimento no volume de negócios ao redor do mundo.

Não se pode esquecer, claro, que por trás de tudo isso existe a entrega de produtos inovadores, tecnológicos e mais duradouros para os consumidores. Ainda, a economia circular proporciona a geração de renda e a criação de empregos, postos de trabalho e oportunidades para a comunidade local.

Como você pôde perceber, a reciclagem de metais e de diversos outros materiais originados da construção civil vai muito além da redução de custos de produção para as siderúrgicas. O processo de separação, reparo e reaproveitamento do aço e outros insumos traz benefícios para o planeta, ao mesmo tempo que proporciona o crescimento da sociedade de hoje e do futuro.

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